Matéria Especial
Deficiência de Vitamina D e doenças cardiovasculares
por Thiago Guimarães Teixeira
Coordenador de Extensão da AAC
As doenças cardiovasculares (DCV) representam a principal causa de morbidade e mortalidade no mundo. Embora os fatores de risco tradicionais já sejam conhecidos, sabe-se que eles podem não explicar completamente o desenvolvimento das DCV, o que tem estimulado a busca contínua de novos fatores de risco. Evidências crescentes sugerem que a deficiência de vitamina D possa estar associada ao maior risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e vasculares.
A vitamina D é um hormônio esteroide, cuja função principal é regular as quantidades de cálcio e fósforo absorvidas pela alimentação e eliminadas posteriormente na urina e nas fezes. A vitamina D realiza essa função em interação com outros órgãos como as paratireoides, os rins e os intestinos. Apesar de poder ser obtida por ingestão alimentar, a sua principal fonte é representada pela síntese no próprio organismo.
O papel da vitamina D na regulação do metabolismo ósseo já está bem estabelecido. Nessa função, ela promove principalmente aumento da absorção intestinal e reabsorção renal de cálcio, na presença do hormônio paratireoideo (PTH). Recentemente, entretanto, vários estudos têm evidenciado que a função da vitamina D se estende muito além da saúde óssea, incluindo a regulação do sistema imunológico e efeitos antiproliferativos nas células, podendo ainda desempenhar papel importante na fisiologia do sistema cardiovascular. Assim, a deficiência de vitamina D (hipovitaminose D) tem sido associada a desordens tão variadas quanto doenças autoimunes, infecções e câncer, além das DCV. No entanto, não se sabe ainda se a suplementação oral de vitamina D é capaz de reduzir a incidência de eventos cardiovasculares e nem qual a dose adequada para suplementação.
Segundo estudos realizados em vários continentes, a hipovitaminose D representa, atualmente, uma das condições mais comuns. Estima-se que mais da metade das crianças e adultos que vivem nos Estados Unidos da América, Canadá, México, Europa, Ásia, Nova Zelândia e Austrália sofram da hipovitaminose D.
Inquérito populacional recente nos Estados Unidos demonstrou que a prevalência de hipovitaminose D duplicou nos últimos 10 anos, acometendo atualmente até 90,0% das populações de negros, asiáticos e hispânicos e 75% da população branca.
Vários fatores podem interferir na prevalência de hipovitaminose D. A exposição cada vez menor à luz solar, característica da vida moderna, aliada ao uso indiscriminado de filtro solar, representa o fator mais importante para o crescente aumento dos casos de hipovitaminose D. Além disso, em indivíduos de pele escura a síntese cutânea da vitamina pode ser reduzida em até 50,0-90,0%, pois a melanina funciona como filtro solar natural. Outros fatores incluem: envelhecimento, sexo feminino, regiões de baixas temperaturas, vestes cobrindo a maior parte do corpo, desnutrição e obesidade.
A associação entre a deficiência de vitamina D, doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, aneurismas da aorta), doenças renais e diabetes tem sido descrita em vários estudos, que sugerem que quanto maior a deficiência de vitamina D, maior o risco de desenvolvimento dessas doenças. Estudos também demonstram que gestantes com hipovitaminose D apresentam risco 5 vezes maior de desenvolver pré-eclampsia ao longo da gestação, quando comparadas com gestantes com dosagens normais de vitamina D.
Os mecanismos pelos quais a vitamina D exerce seus efeitos cardio e vasculoprotetores ainda não estão completamente esclarecidos. Não sendo recomendada a suplementação de vitamina D na população em geral. As medidas preventivas de doenças cardiovasculares, indicadas a qualquer pessoa, permanecem sendo a alimentação saudável, a prática de atividades físicas, preferencialmente ao ar livre, evitar perder noites de sono, evitar consumo exagerado de bebidas alcoólicas, não fumar, e realizar atividades que promovam o bem estar e reduzam o estresse.