Filme
E a vida continua...
Sugestão de Bianca Alves de Miranda
Coordenadora de Estágio da AAC
O filme E a Vida Continua, lançado em setembro de 1993, foi adaptado pelo roteirista Arnold Schulman a partir do livro And the Band Played On: Politics, People, and the AIDS Epidemic, de Randy Shilts, de 1987. O drama, dirigido por Roger Spottiswoode, é baseado em fatos reais, com duração de 136 minutos, e contou com um talentoso elenco composto por nomes como Matthew Modine no papel de Dr. Don Francis, Richard Gere, Alan Alda, Ian McKellen, Glenne Headly, Richard Masur, Saul Rubinek, Lily Tomlin, entre outros artistas.
A história faz referência ao início de uma epidemia causada por um desconhecido agente infeccioso nos EUA em 1981. Retrata-se a pesquisa acerca desta doença que à época era comumente chamada de “Câncer Gay” devido ao grande número de pacientes homossexuais infectados.
Grande parte do filme tem como cenário o Centro de Controle de Doenças (CCD), com a presença de personagens que constituem uma equipe multidisciplinar de diversas áreas e esferas sociais, como médicos - sendo o Dr. Don Francis um especialista em doenças imunológicas -, epidemiologistas, sociólogos, psicólogos e profissionais como ativistas e jornalistas, a fim de traçar o perfil dos pacientes acometidos, o agente etiológico, o quadro clínico e as complicações dessa doença desconhecida e temida.
Em paralelo, o contexto político dos EUA passa por um momento eleitoral e presidencial conturbado, tendo Reagan eleito, um presidente icônico por seus preceitos tradicionalistas que marca uma crítica à conduta tomada em detrimento do pouco investimento em pesquisa sobre essa doença, especialmente pelo altíssimo número de mortos, e pela intolerância social com a população homossexual e haitiana primeiramente afetada.
Ao longo do filme, as suspeitas sobre as formas de contaminação vão se esclarecendo, apontando para uma doença sexualmente transmissível e presente na corrente sanguínea. A busca epidemiológica teve um papel imensurável, com o rastreio dos pacientes e suas respectivas histórias pessoais e de saúde, que norteou as pesquisas permitindo que aos poucos respostas fossem aparecendo, até que a “DIRG – Deficiência Imunológica relacionada aos Gays” passou a ser chamada de AIDS ou SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – em português, e se descobriu a forma estrutural do retrovírus causador dessa patologia: o HIV, Human Immunodeficiency Vírus.
Em suma, a obra entrelaça a perspectiva dos pesquisadores e dos pacientes acometidos, evidenciando a delicadeza e a magnitude do confronto entre o esclarecimento sobre a etiologia e a transmissão da doença e o impacto social da mesma. A rápida progressão da doença e o elevado número de mortes na época marcou uma geração inteira, e impulsionou pesquisas sobre os tratamentos e a cura do HIV.
Atualmente, apesar dos fármacos existentes para controle da expansão da doença que permite uma melhor qualidade de vida ao paciente infectado, não se descobriu vacina ou cura definitiva para essa doença, que ainda tem crescentes casos ao redor do mundo. Ainda hoje, mesmo com todas as descobertas que permitiram desvincular a síndrome à homossexualidade, existe um grande estigma e tabu a respeito desta patologia, e é com este cenário que nós, futuros profissionais da saúde, iremos nos deparar na prática. A ressalva final trazida pelo filme é fazer refletir a dualidade do estigma desta síndrome na vida do paciente e o impacto social e de saúde consequente a esta doença.