Filme
Uma Prova de Amor
por Lívia Liberata Barbosa Bandeira
Coordenadora Multidisciplinar da AAC
Na última década, a temática “câncer" tem sido abordada por Hollywood de maneira intensiva, visto que o viés misterioso, sofredor e com apelo romântico passou a substituir cenários anteriores. Diferentemente desse molde, o filme Uma Prova de Amor, dirigido por Nick Cassavetes e com a performance de Cameron Diaz e da atriz mirim Abigail Breslin, instiga o público quando atua abordando não só uma perspectiva descentralizada da doença, como também questões sociais relacionadas ao poder familiar x autonomia do menor.
O filme se inicia com Anna (Abigail Breslin) reivindicando o direito próprio sobre o corpo, já que a mesma foi gerada a partir da necessidade de ter um doador compatível com a irmã Kate (Sofia Vassilieva), diagnosticada com leucemia nos primeiros anos de vida. Desde seu nascimento as doações foram de sangue de cordão umbilical à transplante de medula, até que, aos 11 anos de idade, foi implantada a necessidade de doar um rim para a irmã doente. Com isso, a menor escreve a sua trajetória em prol da sua emancipação a fim de que tenha direito de decisão acerca do próprio corpo.
Segue-se o modelo retrospectivo a partir dessa primeira cena de forma que haja uma cronologia a ser dividida com o público, incluindo o diagnóstico de Kate. É importante se atentar ao fato de que o próprio filme desenvolve as questões sociais com dualidade de maneira que o objetivo não seja ligado ao julgamento de qualquer uma das partes, mas a interpretação sob um ponto de vista pessoal que gera um forte sentimento de que todas as perspectivas pessoais são preciosas para as relações humanas que se entremeiam em situações não tradicionais ou fáceis de se lidar.
Ainda assim, há tempo de desenvolver o personagem da própria Kate de forma triunfal. Trata-se de uma menina que sempre viveu na eminência de morte e nunca teve tempo para viver, ainda que estivesse na adolescência. A mesma transmite um caráter apaixonado pela vida e consegue incorporar experiências normais da juventude, como o primeiro amor e o primeiro encontro, ainda que dentro de um hospital e limitada por suas condições. Por fim, Kate consegue ensinar para os seus pais sadios o significado da vida, preparando-os para seguir em frente não com substituições, mas com a lembrança de quem ela era e quem a sua irmã é.