Matéria Especial
Pedidos Desnecessários de Exames
por Edson Kazuo Kakudate Junior
Coordenador de Estágio da AAC
Com a evolução da medicina, vários procedimentos que antes tardavam, hoje, podem ser obtidos em horas com muito mais facilidade, como é o caso do hemograma, radiografia e tomografia, entre outros exames tão requisitados no dia-dia da prática médica. Os exames complementares são aliados importantes e muitas vezes indispensáveis no diagnóstico e tratamento médico. Mas quando realmente é necessário solicitá-los? Não é de se assustar que, em uma consulta de rotina, um paciente saia do consultório com uma lista enorme de exames?
Existem algoritmos que ordenam a solicitação de exames como parte do diagnóstico e detalhamento da suspeita médica. É de extrema importância que nós, futuros profissionais da saúde, saibamos o porquê de se solicitar determinado exame, tanto para evitar os gastos com a sua realização como para não submeter o paciente a procedimentos invasivos, radiológicos ou tóxicos de forma desnecessária. Ainda, caso o exame seja feito pelo sistema público de saúde, devemos considerar também que, ao solicitar procedimentos desnecessários, estaremos contribuindo para congestionar as filas de espera e tomando o tempo de nossos pacientes.
Por outro lado, é compreensível a conduta de muitos médicos, pois os exames também são uma forma de se prevenir frente a um processo, e assegurar de que foi feito tudo dentro do possível pelo médico. Muitas vezes, os próprios pacientes levam os médicos a ter esta conduta: um exemplo que vivenciei foi o caso de um pai que chegou à emergência acompanhado de seu filho de 4 anos, que estava com febre e dor de cabeça. A médica de platão examinou o paciente, medicou o mesmo para febre e determinou repouso, pois o diagnosticou com resfriado. Porém, o pai, inconformado, disse que foi mal atendido, pois não se solicitou nenhuma radiografia, hemograma ou qualquer outro exame complementar.
Essa história se repete muitas vezes no dia-dia dos médicos, e muitos terminam cedendo a vontade dos pacientes. Temos que ser coerentes e exercer a medicina de forma crítica, tendo em mente o porquê de tudo que fazemos. Assim, podemos ter os avanços tecnológicos como aliados e não como a base da prática médica.
Abaixo segue um trecho do código de ética retirado do site:
http://www.portalmedico.org.br/pareceres/cfm/2000/29_2000.htm.
(Também segue uma ementa que assegura a liberdade médica para solicitação de exames.)
I-Código de Ética Médica
1-Princípios Fundamentais
Art. 2º - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.
Art. 5º- O médico deve aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.
Art. 8º- O médico não pode, em qualquer circunstância ou sob qualquer pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, devendo evitar que quaisquer restrições ou imposições possam prejudicar a eficácia e correção de seu trabalho.
2- Direitos do Médico
Art. 21- Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas reconhecidamente aceitas e respeitando as normas legais vigentes no país.
EMENTA: O médico, para melhor servir ao paciente, deve ter autonomia e liberdade no exercício de sua profissão. Se houver, por parte de algum, pedidos reiterados de exames considerados desnecessários e com indícios de procedimento doloso, deve tal fato ser levado ao conhecimento do Conselho Regional competente, sem prejuízo de medidas que possam ser adotadas com base em regras internas da instância prejudicada, respeitado o princípio constitucional de defesa. Mas fere a Ética Médica a limitação de procedimentos permitidos ao médico (fator moderador), sendo também anti-éticas as medidas punitivas que lhe possam ser impostas quando ultrapassados os limites estabelecidos como estatisticamente aceitáveis (fator redutor).
Abaixo segue um vídeo do Dr. Drauzio Varella sobre pedidos de exames desnecessários: