Música
Influência da música durante cirurgias
por Rômulo Nascimento Mundin
Associado da AAC
A música é uma combinação harmoniosa de sons rítmicos e melódicos, e sua utilização para efeitos terapêuticos é tão antiga quanto as obras de Platão. Atualmente, seu uso no momento do transoperatório estabelece uma significativa redução dos anseios negativos durante o procedimento cirúrgico, promovendo acolhimento e cuidado humanizado, de modo a proporcionar um procedimento mais ameno e relaxante para todos os envolvidos.
Para a equipe cirúrgica, a música estimula a tranquilidade, a concentração, o raciocínio e a autoconfiança, o que torna o procedimento prazeroso e com menores níveis de estresse.
Existem inúmeras teorias para o mecanismo de ação da música. Uma delas é sobre o seu efeito no sistema nervoso central: a música estimularia a hipófise a liberar endorfina (opióide natural), aumentando o limiar da dor e levando os pacientes submetidos a musicoterapia ao uso de menores doses de analgésicos. Ademais, parece ocorrer uma diminuição da liberação de catecolaminas, reduzindo a frequência cardíaca, pressão arterial, débito respiratório e cardíaco.
Segundo Todres, estudos de imagem do cérebro mostraram atividade nos condutos auditivos, no córtex auditivo e no sistema límbico em resposta à música. Mostrou-se ainda que ela é capaz de baixar níveis elevados de estresse e que certos tipos de música, tais como a música meditativa ou clássica lenta, reduzem os marcadores neuro-hormonais de estresse.
Entrevistas a pacientes que receberam a musicoterapia sugerem que a música promove uma sensação de bem-estar, relaxamento e até mesmo diminuição da dor. Além disso, possibilita a evocação de sentimentos e sensações alegres, reduzindo ou eliminando aquela tensão ou ansiedade característica da cirurgia. A musicoterapia, assim, está sendo desenvolvida em vários serviços de saúde. Ela é uma proposta para viabilizar o conforto, diminuir a dor, favorecer uma melhor relação paciente-equipe e reduzir os níveis de ansiedade desses pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos. Não obstante, ela impulsiona a concentração para o paciente, aumentando sua participação e colaboração nas atividades e procedimentos a ele propostos, o que melhora a relação e integração entre paciente e equipe de saúde.
A música transmite sensações prazerosas ao ouvinte, sua variedade de tons e timbres promove efeitos que contribuem para a efetivação do cuidado humanizado, além de oferecer implicações psicossomáticas, espirituais e físicas. No período do transoperatório, por exemplo, a equipe de saúde pode utilizar essa ferramenta para melhorar a permanência do paciente no centro cirúrgico, bem como a sua recuperação no pós-operatório.
E qual gênero musical ouvir durante a cirurgia? Um estudo realizado em Campina Grande mostrou que, normalmente, se utiliza música instrumental e clássica para cirurgias mais longas e tensas; para cirurgias eletivas, música popular brasileira e romântica. O estilo romântico, por exemplo, promove alterações nos débitos da frequência cardíaca e nos débitos respiratórios, sendo capaz de estimular os níveis de energia, despertando, por meio deste, a atenção, tornando-se responsável também pelo o aumento da atividade motora, e vem se configurando também como fator responsável pela elevação do bom humor. A Prof. Dra. Maria Cristina Zindel Deboni, do Departamento de Cirurgia Buco Maxilo Facial da USP, reforça que o paciente deve opinar na escolha da música, pois o som que mais o agrada propiciará maiores efeitos terapêuticos.
Em suma, a mudança da rotina do indivíduo para o ambiente hospitalar causa uma ruptura de práticas e hábitos diários e a utilização da música é capaz de produzir estímulos variados, relacionados aos aspectos físicos e mentais, responsáveis também por reduzirem os níveis de estresse, tensão e ansiedade frente à cirurgia. Tal técnica mostra-se apropriada para produzir efeitos hemodinâmicos favoráveis à cirurgia e sensações agradáveis, o que aumenta os níveis de energia e eleva o bom humor. A música, desse modo, é um recurso favorável às relações humanas, sendo capaz de transformar o sofrimento psíquico em um momento de descontração prazerosa e confortável, tornando-se parte de uma assistência em saúde humanizada.