Matéria Especial
Mulheres na Medicina
ao Longo da História
por Camylla Santos de Souza
Presidente Fundadora da AAC
por Marlon Moreira Nery
Coordenador de Mídia da AAC
Para homenagear o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, a AAC – Associação Acadêmica de Cardiologia traz ao público uma matéria especial sobre a presença das mulheres na medicina ao longo da História.
Desde a Antiguidade, seja como curandeiras, sacerdotisas ou parteiras, as atividades de atenção e cuidado na saúde estiveram relacionadas à mulher.
O registro mais antigo de uma mulher ligada à área das ciências data à 2.700 a.C, no Egito: Merit Ptah era tida como “médica-chefe”.
Na mitologia grega, Hígia (ou Higeia), filha do deus Esculápio da cura e da medicina, era cultuada como a deusa da saúde, limpeza, sanidade e prevenção.
Em 859 d.C., já na Idade Média, Fatima al-Fihri, filha de mercadores árabes, foi responsável por fundar, no Marrocos, a universidade mais antiga do mundo em funcionamento, a Universidade de Al-Karaouine.
Em 1083, Ana Comnena, princesa e historiadora bizantina, ensinava medicina em um grande hospital e orfanato de Constantinopla, sendo considerada uma especialista em gota.
A Universidade de Bolonha permitia às mulheres assistir aulas desde 1088.
Alguns conventos, em especial, a Abadia de Argenteuil, ensinavam, além de letras e teologia, princípios de medicina e cirurgia para as meninas da nobreza europeia que eram ali educadas.
Hildegarda de Bingen, abadessa alemã e santa católica, foi uma grande estudiosa das ciências médicas, especialmente sobre o uso de plantas medicinais, compilando tratados onde discursava sobre a cura de diversas doenças com objetividade científica pouco vista na época.
Entre os plebeus e grande parte da população feudal, algumas mulheres tinham função primordial como curandeiras e parteiras, sofrendo, por vezes, severas repressões por parte das autoridades da época, quando seu conhecimento não era compreendido e taxado como “bruxaria”.
Contudo, com a ascensão da Alta Idade Média e início da Idade Moderna, em muitas cidades da Europa, foi determinado que apenas homens poderiam receber o treinamento médico formal nas universidades. Porém, algumas mulheres desafiaram as normais legais e convenções sociais de sua época, ingressando no treinamento formal e exercendo a profissão.
Trotula de Salerno, pioneira da ginecologia e da obstetrícia no século XII, estudou na Escola Médica de Salerno, onde ministrava aulas para um seleto grupo de mulheres da nobreza italiana (conhecido como as “Senhoras de Salerno”), e escreveu vários tratados sobre menstruação, concepção, gravidez, parto, puerpério, controle de natalidade, doenças do útero e das vias urinárias, bem como cuidados com a pele, higiene e cosmética, que se tornaram referência obrigatória nas universidades europeias até o século XVI.
No início do século XIX, é emblemática a figura de James Barry, cirurgião militar de grande prestígio do Exército Britânico, que em sua autópsia, descobriram ser uma mulher, chamada Margaret Ann Bulkley. A descoberta desse fato levou à tona a polêmica da dificuldade de inserção da mulher na prática médica.
Quase 50 anos depois, Elizabeth Garrett Anderson tornou-se a primeira mulher a conseguir um diploma em medicina no Reino Unido, além de criar o primeiro hospital-escola para mulheres, o Elizabeth Garrett Anderson Hospital, parte do University College Hospital.
Contemporânea a Dra. Anderson, foi Florence Nightingale, enfermeira especialista no tratamento de feridos de guerra, pioneira na utilização do modelo biomédico, estatística hospitalar e criadora da primeira escola de enfermagem secular do mundo, no Hospital St. Thomas, em Londres.
A partir da Primeira Guerra Mundial, com o declínio da população masculina e a necessidade de mais médicos, passou-se a estimular o treinamento de mulheres para a profissão. Ao longo do século XX, as mulheres foram conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. O cenário futuro é que mulheres passem a ser maioria na medicina.
Merecem destaque as 10 mulheres que, ao longo do século XX e atualmente, no século XXI, ganharam o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia. São elas:
Gerty Cori, em 1947, por suas descobertas sobre Diabetes, mais especificamente sobre mecanismo pelo qual a glicogênio é metabolizado no tecido muscular em ácido láctico e, em seguida, re-sintetizado e armazenado como fonte de energia (Ciclo de Cori).
Barbara McClintock, em 1983, pela descoberta do fenômeno de transposição genética nas décadas de 1940 e 1950. É considerada, ao lado de Gregor Mendel e Thomas Hunt Morgan, uma das três mais importantes figuras da história da genética.
Rita Levi-Montalcini, em 1986, pela descoberta de NGF (nerve growth factor), uma proteína importante para o crescimento e manutenção dos neurônios.
Gertrude B. Elion, em 1988, pelo desenvolvimento de drogas amplamente usadas no dia a dia médico, como o 6-mercaptopurine, azatioprina, alopurinol, pirimetamina, trimetoprima, aciclovir e nelarabina.
Christiane Nüsslein-Volhard, em 1995, pela descoberta de que todas as funções das células são determinadas por seu fator hereditário, que contribuiu para a compreensão do processo de desenvolvimento dos embriões. Foi responsável também por catalogar os principais genes e mutações da Drosophila.
Linda B. Buck, em 2004, por suas pesquisas a respeito de receptores olfativos, mostrando que havia cerca de mil genes diferentes para receptores olfativos no genoma dos mamíferos, todos acoplados à proteína G.
Françoise Barré-Sinoussi, em 2008, pela sua descoberta do retrovírus do HIV, em 1983, bem como sobre suas pesquisas a respeito da resposta imune à infecção viral, os fatores envolvidos na transmissão mãe-filho e os motivos pelos quais alguns pacientes HIV-positivos conseguem limitar a replicação do HIV, sem desenvolver propriamente a AIDS.
Elizabeth H. Blackburn e Carol W. Greider, em 2009, pela descoberta de como os cromossomos são protegidos por telômeros e a enzima telomerase.