Matéria Especial
Má notícia: como proceder?
Por Bianca Alves de Miranda
Coordenadora de Estágio da AAC
Um dos maiores estigmas associados aos médicos é a visão da população em geral destes serem precursores de más notícias. Infiltrado na cultura da sociedade, as pessoas têm medo ou algum receio de ir ao médico, principalmente quando se trata de um paciente com hábitos de vida sabidamente prejudiciais, os quais acabam por evitar consultas, mesmo as de rotina, por já esperarem que possam ser persuadidos e incentivados a mudar e melhorar sua postura, iniciar algum tratamento, ou receber uma notícia que mude inesperadamente sua vida.
Esse medo por vezes também se fundamenta em um histórico ruim com o cenário médico e hospitalar, seja por ter acompanhado o sofrimento ou óbito de algum ente querido, ou por ter recebido uma notícia de forma abrupta e inesperada sem o devido preparo. Ainda, duas principais características diferenciam os pacientes: há o que procure o médico com uma queixa especifica e esperando um diagnóstico e solução, e existe o paciente que procura o médico sem queixa específica e, consequentemente, não espera receber um diagnóstico.
A partir de então, dentro desse cenário dramático, que contempla majoritariamente doenças crônicas e tratamentos invasivos, o papel do médico passa a ser crucial na comunicação da notícia, e o desfecho é então traçado em detrimento da mensagem que for passada e do canal que for aberto para diálogo. Além disso, outros fatores interferem na recepção da notícia pelo paciente, como o nível socioeconômico, idade, o desenvolvimento educacional e o contexto familiar, que criam um conjunto importante para recepção de uma notícia e principalmente para criar um sistema de suporte futuro.
Para auxiliar legal e eticamente neste momento delicado, alguns preceitos deste seguimento são descritos no Código de Ética e Conduta Médica, regido pelo CFM, principalmente no Capítulo I - em que se narra os princípios fundamentais e se enaltece o equilíbrio entre a promoção da saúde e o sofrimento do doente - e no Capítulo V - o qual narra sobre a relação com pacientes e familiares, delimitando as obrigações do médico perante o paciente e à prática diagnóstica e terapêutica.
Em suma, é necessário enfatizar que a empatia do notificante deve prevalecer nessas situações, sendo que o mesmo precisa ser capaz de se colocar no lugar do outro nesse momento singular em que muito pode estar em jogo para o paciente, devendo-se preconizar o bom senso e o respeito mútuo.
Para finalizar, deixo um trecho do 1º Código de ética americano para alimentar a reflexão: “A vida de uma pessoa doente pode ser abreviada não somente pelos atos, mas também pelas palavras ou conduta do médico. É, portanto, um dever sagrado proteger o paciente evitando tudo o que puder desencorajá-lo e deprimir o seu espírito”.