Filme
Mar Adentro
por Gustavo Adolfo Kuriyama Massari
Coordenador de Mídia da AAC
Mar Adentro é um filme baseado em uma história verídica que evidencia a vida ou motivos para quem precisa reafirmar sua existência.
A história retrata a vida de Ramón Sampedro (Javier Bardem), marinheiro galego e mecânico de barcos. Aos 26 anos, num mergulho em águas rasas, instalou-se para sempre em uma cama ao sofrer um acidente e ser obrigado a viver, paralisado, dependendo da ajuda de seus familiares para todas as suas necessidades básicas.
Depois de anos sendo cuidado pela atenciosa família de seu irmão, Ramón segue com o desejo de partir dessa vida, que para ele já não tem significado algum. Para isso, ele irá contar com a ajuda voluntária da advogada Julia (Belén Rueda), que sofre de uma doença degenerativa. Preparando-se para enfrentar o júri e tocar numa grande discussão social, Ramón conhece a humilde operária Rosa (Lola Dueñas), que se impõe no desafio de querer “salvar” o homem.
Um dos pontos mais interessantes de Mar Adentro se apresenta no cuidado em ter o mínimo possível de julgamentos. O discurso de Ramón Sampedro é bem simples. Em nenhum momento ele lança a dúvida sobre a capacidade das pessoas em se sentirem realizadas, mesmo com as novas condições que a vida lhes impõe. Um cadeirante pode se sentir e até ser feliz com sua realidade, dependendo da forma com que a vive.
Perguntado por Julia sobre o porquê do desejo de morrer, a resposta é tão direta quanto devastadora: a distância que separa ele de sua interlocutora pode ser insignificante pra muita gente, mas pra ele trata-se de um obstáculo intransponível. Cada personagem possui uma função tangível e cada um passa por algum tipo de confronto interno diante das decisões de Ramón.
Há um momento no filme onde Ramón diz que o mar lhe deu a vida e o mar a tirou, porque foi onde ocorreu o acidente. O mar é, também, a sensação de escape. É essa linha do horizonte que nunca se acaba, que representa o infinito. No ápice de seu desenvolvimento civilizatório e do seu complexo de mediações sociais, o homem parece ser o único animal capaz de justificar a morte a partir da vida.