Filme
Hipócrates
por Emidio Germano da Silva Neto
Secretário/Tesoureiro da AAC
O filme Hipócrates (nome original: “Hippocrate”), é uma obra francesa de grande relevância para os iniciantes da área da saúde, não só porque se passa em um cenário hospitalar, mas também por ser baseado em acontecimentos reais vivenciados pelo próprio diretor da obra, Thomas Lilti.
Thomas Lilti (41 anos) é um médico francês, atuante na saúde primária, escritor e diretor de filmes. É considerado um dos únicos – se não for o único – médico e diretor de filmes em atividade. Ele baseou-se nas experiências, dificuldades e imaturidade vividas por ele quando começou sua carreira médica e os retratou na imagem de Benjamin, um jovem médico de 23 anos que acabava de iniciar sua residência médica em um hospital de Paris.
Benjamin, apesar do seu estilo pessoal descuidado, é um recém-egresso que prima pela excelência e aprovação do seu pai (Jacques Gamblin), o qual também é médico e trabalha no mesmo hospital que Benjamin. No início de sua residência, ele se tornou o residente mais respeitado do departamento de clínica médica, até que Adbel, um médico veterano da Argélia que estava estudando para revalidar o seu diploma na França, chega ao departamento.
A maior experiência e o melhor manejo a beira leito demonstrado por Abdel fizeram Benjamin sentir-se ameaçado e propenso a deslizes. O primeiro foi a morte de um paciente cirrótico terminal, apelidado de “Tsunami”, durante um plantão noturno. Benjamin não solicitou um eletrocardiograma para o paciente, que se queixava de dor abdominal, devido ao não funcionamento do aparelho de eletrocardiografia do hospital. No outro dia, ele descobre que o paciente havia falecido e um grande alvoroço instalou-se no hospital. Contudo, o erro de Benjamin foi encoberto por seu pai, que chegou, inclusive, a divulgar a todos que o exame havia sido realizado.
Esse acontecimento, associado ao deslize de Benjamin que desencadeou na morte precoce de “Tsunami”, abalou a autoconfiança do jovem médico, cuja maturidade e reconquista da imagem dentro do hospital foram adquiridas através de muito esforço, erros e acertos.
Embora tenha posto Benjamin como protagonista da obra, Thomas Lilti aborda de forma profunda o personagem Abdel, com ênfase até de igual importância a Benjamin. A França vivia uma época marcada por grande preconceito aos argelianos, ainda devido à guerra de independência da Argélia. Embora Abdel fosse um médico bastante talentoso, o seu modo de tratar os pacientes não era bem visto pelos outros profissionais do hospital, que viam as atitudes dele como uma forma de manipular os pacientes à causa argeliana.
Além dessa temática social da imigração, o filme aborda de forma bastante crítica e realista a transição do sistema de saúde francês, saindo de um padrão privado e limitado, para uma realidade pública e universal. A carência de recursos, tanto financeiros como de profissionais e insumos hospitalares é retratada no cotidiano dos personagens, uma realidade bastante semelhante àquela dos diversos hospitais da rede SUS brasileira.
Em síntese, o filme Hipócrates nos traz uma reflexão sobre os erros e acertos que todos nós iremos vivenciar durante nossa carreira como profissionais da saúde e nos remete à realidade do sistema público de saúde fora do Brasil, o qual, assim como o nosso, é marcado por inúmeras deficiências.