Filme
Um Golpe do Destino
por Gustavo Adolfo Kuriyama Massari
Coordenador de Mídia da AAC
O filme conta a história de um médico cirurgião renomado, Dr. Jack Mckee, muito competente, mas com poucas emoções. É conhecido pela sua relação médico paciente muito distante considerando-os apenas casos clínicos, cheios de números e com fichas detalhadas. A dedicação ao trabalho tornou-se exclusividade e sua relação com a família também era precária; aos poucos, tornou-se um homem solitário, sem lazer e sem descanso. De repente, Dr. Mckee muda de “posição”, se tornando paciente. Quando isso ocorre, há uma série de mudanças que lhe engrandecem como médico e como pessoa.
O médico arrogante se torna paciente do hospital em que trabalha, devido a um tumor laríngeo. Ele é atendido por uma médica com características semelhantes com as dele, então, é nesse momento em que o protagonista envereda por um processo de mudança de médico a paciente. Esta mudança representa um exercício de se “perceber paciente” colaborou para que o cirurgião mudasse seu sentimento de onipotência e entrasse no mundo do paciente que necessita, além de um tratamento, atenção e empatia, e reconhecendo a importância de se fazer humano para compreender as sensações e dores dos pacientes.
No início, há uma grande dificuldade e negatividade associadas às mudanças de percepções a respeito do ambiente hospitalar. Dr. Mckee começa a criar novas concepções sobre o sistema de saúde, de atendimento e normas de trabalho. Estas experiências lhe acrescentaram significativamente, enquanto ser humano, e lhes ensinou sobre a vida, a ética, a solidariedade, a dor, a perda e principalmente sobre a amizade, ao presenciar o falecimento de uma amiga; ele sente que não é o detentor do saber, que não pode suprimir a dor de uma perda e que como, qualquer pessoa, possui limitações.
O filme permite uma reflexão sobre o exercício dos profissionais de saúde ter se tornado exaustivo, com longas jornadas de trabalho, e, nesse contexto, é que surgem as falhas na relação médico pacientes. Muitos são atendidos numa velocidade grande e não recebem os devidos tratamentos dignos de qualquer ser humano.
A medicina, por exemplo, tem se transformado numa prática fragmentada, insensível, pouco humana. As relações interpessoais se afunilaram e não se tem respeito às idiossincrasias; não se percebe a solidariedade; a capacidade de se colocar no lugar do outro; de compreender as dificuldades presentes no âmbito médico.
Os médicos são tidos como semideuses, dotados de poderes sobrenaturais, e aos poucos foram supostamente protegidos por uma carapaça rígida que os separa do mundo real. O filme é um exemplo disso, pois relata bem a história de um cirurgião que, ao adoecer, entendeu o valor que cada um possui, como médico ou como paciente.
Há, nesse aspecto, a necessidade da medicina recuperar os elementos subjetivos da comunicação entre o médico e o paciente, porque segundo ele, este diálogo foi impropriamente assumido pela psicanálise e esquecido pela medicina, seguindo apenas instrumentações técnicas e a objetividade dos dados.
No final do filme ele impõe que seus residentes devam passar pelos mesmos procedimentos que seus futuros pacientes poderão sofrer, porque segundo o doutor Mckee a teoria não é o suficiente para entender e respeitar o sofrimento do doente, ou seja, eles terão que sentir e viver a doença.
Data de lançamento: 24 de julho de 1991.
Duração: 122 min.
Direção: Randa Haines.
Elenco: William Hurt, Christine Lahti, Elizabeth Perkins, Mandy Patinkin.
Gêneros: Drama, Biografia.
Nacionalidade: EUA.