Matéria Especial
Experiência de quase morte: um olhar científico
por Emidio Germano da Silva Neto
Secretário/Tesoureiro da AAC
Experiências de quase morte são fenômenos que há séculos intriga o pensamento médico/científico. Essa sensação de morte iminente, por vezes descrita como uma experiência profunda, em que o “eu” transcende os limites do ego, do tempo e do corpo, tem sido descrito desde o século XIX e, desde então, tem sido palco de muitas teorias e discussões.
Em 1997, Moody introduziu o termo técnico “experiência de quase morte” (EQM), abordando a experiência de inefabilidade, ouvir o anúncio da própria morte, envolventes sentimentos de paz, ouvir um ruído, ver um túnel, sentir estar fora do corpo, encontrar-se com seres não-físicos, um “ser de luz, após o organismo ter sofrido uma parada cardiorrespiratória (PCR) ou risco iminente de vida.
Greyson (2003), Parnia et al., (2001); van Lommel et al (2001) reportaram, em seus estudos, uma ocorrência de 12 a 18% de EQM em sobreviventes de PCR. Para os que já vivenciaram EQM, inúmeras consequências positivas foram reportadas no meio acadêmico, como uma maior espiritualidade, preocupação com o próximo, valorização à vida, sentimento de importância, capacidade para lidar com as adversidades da vida, bem como uma diminuição do medo da morte, do materialismo e da competitividade. Um dos pontos mais interessantes e instigantes reportados no sentido espiritual foi a sensação de viver uma missão pessoal e existir uma vida após a morte, o que os torna mais propensos à aceitação da morte.
Boa parte dos pacientes que viveram uma EQM vão, gradualmente, ajustando-se à nova realidade psíquica e religiosa. Embora possa ser uma experiência profunda e enriquecedora, do ponto de vista pessoal e espiritual, essa nova realidade e valores adquiridos podem, no entanto, acarretar em novas atitudes e interesses consideravelmente discrepantes em relação aos adotados previamente, o que pode gerar conflitos com familiares, amigos e colegas de trabalho
Em adição, muitos dos que passaram por uma EQM sofrem transtornos psicossociais, já que essa experiência pode causar um conflito interno com crenças e atitudes prévias ao evento, o que faz com que muitos questionem até sua própria sanidade mental. Depressão, ansiedade e raiva são sintomas comuns e o próprio fato de o problema ter advindo de uma EQM torna o contato médico-paciente dificultoso, uma vez que estes sentem-se receosos para procurarem auxílio, por se sentirem envergonhados ridicularizados por amigos e família e, inclusive, profissionais de saúde.
Além de poderem trazer consequências à saúde mental, EQM têm sido bastante associadas com alucinações auditivas contínuas, sendo reportadas como sendo, de fato, reais pelos pacientes, mas não são ouvidas por outras pessoas. Apesar de ser, a primeira vista, uma “sequela” negativa, 97% desses relatam alguma atitude positiva em relação a elas, ao passo que apenas 52% dos pacientes psiquiátricos reportam tal sensação. Essa diferença marcante é primariamente associada com o sentimento de instrução e valor dado a essas vozes nas vidas dos pacientes que vivenciaram EQM.
Para ilustrar um pouco esse tema é desmistificar alguns dos paradigmas envolvendo a EQM, segue uma sugestão de vídeo: