Biografia
por Lívia Liberata Barbosa Bandeira
Coordenadora Multidisciplinar da AAC
Dr. Eurycides de Jesus Zerbini
"Operar é divertido, é uma arte, é ciência e faz bem aos outros."
Dr. Eurycides de Jesus Zerbini
EJ Zerbini, como gostava de ser chamado, é considerado um grande contribuinte para a história da medicina no Brasil e no mundo, além de detentor de um grande legado, principalmente, pelo seu caráter educacional. Dr. Zerbini nasceu na cidade de Guaratinguetá em 7 de maio de 1912, sendo o sexto e último filho de uma argentina e um italiano.
A medicina entrou na sua vida por acaso quando, durante a juventude, avaliou que não possuía predileção vocacional, sendo então indicado pelo pai a seguir a carreira médica. Após se mudar do seio familiar em Campinas a fim de se preparar para o vestibular na casa de sua irmã na capital São Paulo, em 1930, teve a primeira grande conquista, com a classificação entre os 10 primeiros do vestibular de medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), graduando-se 5 anos depois (1935).
Mesmo após o vestibular, Dr. Zerbini participou desde atividades laborativas no ensino de Química, Física e História Natural para auxílio de custo de vida em São Paulo até de movimento do Vale do Paraíba, o qual foi relacionado com a Revolução Constitucionalista de 1932.
Ainda na faculdade, seu grande mestre foi o Dr. Alípio Corrêa Netto, professor titular, médico de alta posição da Santa Casa de São Paulo e grande cirurgião de guerra durante a Segunda Guerra Mundial. O mesmo viu no jovem Zerbini a propriedade de ocupar o posto altamente cobiçado de Chefe da Divisão da Santa Casa de São Paulo, sendo nomeado ao posto de primeiro assistente apenas 4 anos após a sua graduação. Dois anos depois, passou no concurso de livre docência da faculdade de origem.
Em geral, Zerbini se caracterizou como um médico sempre à frente da sua época e idade. Foi dessa forma que também, em seu primeiro contato com o coração e a cirurgia cardíaca, ele recebeu um caso de emergência proveniente de um menino de 5 anos com estilhaços no coração, desenvolvendo a primeira rafia com sucesso de um ferimento cardíaco no país. Tal feito foi publicado na revista internacional Journal of Cardiac Surgery de 1943 sob o título “Coronary ligation in wounds of the heart”.
A sua insatisfação com a limitação de atuação da cirurgia cardíaca o moveu, juntamente com o Dr. Alípio, para visitar o serviço de cirurgia torácia nos EUA, o que gerou uma oportunidade para estudo posteriormente nos principais serviços de vários departamentos de cirurgia, incluindo com o Dr. Alfred Blalock, inovador do campo de estudos relacionado à Tetralogia de Fallot.
A experiência gerou conhecimento e inovações no campo da cirurgia cardíaca quando retornou ao Brasil com procedimentos como a cirurgia de Blalock-Taussig, ligadura de ducto arterial em paciente jovem, reparação de coarctação de aorta, procedimentos intracardíacos com hipotermia, correção de cirurgia de malformação congênita simples, tratamento da estenose mitral no boom da febre reumática e, principalmente, em 1967, o primeiro transplante cardíaco no Brasil. Destaca-se a sua atuação na diretoria da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular como precursor da Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular em 1986 e a realização do pleno funcionamento do centro cirúrgico do Incor em 1968.
Através de seu grande legado, Dr. Zerbini revolucionou a medicina cardíaca, que, até o século passado, tinha mortalidade de 90% devido ao tratamento restrito à repouso e sangria. O mesmo afirmou que “não se interessava em ficar famoso”, mas a curiosidade e avidez pela medicina tornaram-na a sua verdadeira vocação.