Editorial
Comunicação e a sua verdade: decompondo isso
por Camylla Santos de Souza
Presidente Fundadora da AAC
Um dos maiores males da comunicação é que o ser humano não ouve para compreender e sim, para responder.
Mesmo sem perceber, todos nós, durante uma conversa, procuramos influenciar outrem com a nossa opinião sobre um fato. Alguns vão além: não se limitam a apenas expor sua experiência e crenças, mas as consideram como as únicas possíveis de serem VERDADE.
Geralmente, a verdade é definida como absoluta, imutável e perfeita, porque se é verdade, não é mentira.
Diante dessa definição: absoluta, imutável, perfeita, vêm as perguntas...
Nós somos absolutos?
Nós somos imutáveis?
Nós somos perfeitos?
A resposta para todos esses questionamentos é uma só: NÃO.
O ser humano não é absoluto, nem imutável, nem perfeito. Estamos constantemente mudando, evoluindo e nos redescobrindo.
Logo, atrevo-me a dizer que, não temos capacidade de ver a verdade. Porque ela é tudo isso - absoluta, imutável e perfeita – e, para enxergá-la, nós teríamos que ter também essas qualidades.
Como a verdade é impossível para nós no presente estado, podemos ver alguma coisa? SIM.
É o que chamamos de CONHECIMENTO.
Conhecimento é a parte da verdade que somos capazes de ver no momento.
Por isso, o conhecimento é mutável. O conhecimento progride. O conhecimento se altera. O conhecimento se adapta.
Como nós mudamos, a nossa capacidade de ver também muda e passamos a ver mais coisas. Por exemplo, há muito tempo atrás, alguém disse que uma das causas do sofrimento cardíaco era a gordura; logo, manteiga era um veneno para o coração. Aí deixamos de lado a manteiga e passamos a comer margarina. Depois, disseram que margarina aumenta o colesterol, que é o responsável pelos males cardíacos; então, a margarina caiu em desgraça e as pessoas voltaram a consumir manteiga; recentemente, bom mesmo é comer banha de porco.
O que houve? Os pesquisadores mentiram? Não. Naquele momento em que estavam estudando o assunto, eles podiam ver a gordura, mas não sabiam que havia vários tipos dela.
A nossa tecnologia aumentou, os pesquisadores identificaram o colesterol, mais especificamente, o colesterol bom (HDL) e o ruim (LDL).
À medida que a tecnologia cresceu, começamos a identificar cada vez mais coisas; aí verificamos que não é bem o colesterol o problema, mas a associação dele com outras substâncias, ou melhor, fatores de risco, como hipertensão, diabetes, tabagismo e idade avançada, para citar apenas alguns.
Então, os pesquisadores mentiram antes? Não.
Eles disseram a verdade que eram capazes de ver naquele momento. Por isso que a ciência não chama suas descobertas de verdade; ela chama de conhecimento.
Logo, o conhecimento muda? Sim.
Da mesma maneira que nós mudamos também.
Para concluir, vale mencionar um famoso provérbio indiano, que diz o seguinte:
“Quem é cego?
Aquele que é incapaz de enxergar outro mundo.
Quem é mudo?
Aquele que é incapaz de dizer palavras amáveis no momento certo.
Quem é pobre?
Aquele que é atormentado por ambição desmedida.
Quem é rico?
Aquele cujo coração está em paz!”
E acrescento...
Quem é simples?
Aquele que pensa e age sem complicações.
Pense sobre isso.