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Matéria Especial

A arbovirose Chikungunya e suas possíveis manifestações cardiovasculares

por Mateus Francelino Silva

Coordenador de Pesquisa da AAC

A arbovirose Chikungunya vem chamando a atenção da mídia nos últimos meses, decorrente principalmente dos grandes números de casos que são registrados no país.

 

Em 2016, de acordo com o Boletim Epidemiológico liberado pelo Ministério da Saúde, foram registrados no país 271.824 casos prováveis de chikungunya, distribuídos em 2.829 municípios, sendo 151.318 (55,7 %) casos confirmados. Destes casos, 196 vieram a óbito, sendo os estados mais predominantes: Pernambuco (58), Rio Grande do Norte (37), Paraíba (34), Ceará (26) e Rio de Janeiro (13). 

Em 2017, a avaliação por regiões geográfica demonstra que a região Norte apresentou a maior taxa de incidência: 4,5 casos/100 mil hab, sendo destacados entre as UFs o estado do Ceará (11,4 casos/100 mil hab.) e do Tocantins com (9,2 casos/100 mil hab.). Até o final de janeiro, foi confirmado apenas 1 óbito decorrente de chikungunya, na Bahia.

 

Diante de tantos casos, o conhecimento básico dessa doença se faz necessário por todos aqueles que ingressam na área da saúde. Com isso, é importante lembrar que o vírus causador dessa doença, CHIKV, é um arbovírus de RNA que pertence à família Togaviridae e ao gênero Alphavirus. A transmissão desse vírus é feita da mesma forma que na Dengue, ou seja, por meio dos mosquitos Aedes aegypt (na Ásia, também foi identificado transmissão por meio do Aedes Albopictus).

Normalmente, há um período de incubação do vírus de 1 a 12 dias, sem a presença de sintomas, iniciando a sintomática com manifestações de síndrome febril (baseando-se em febre alta, frequentemente acima de 39°C, cefaleia e mialgia). Em países, França, Índia, Sri Lanka, Colômbia, Venezuela e EUA, as manifestações cardiovasculares são relativamente comuns, apresentando-se aproximadamente em 54% dos casos. Esse envolvimento cardíaco normalmente é associado ao óbito.

 

Além de causar manifestações cardiovasculares, deve-se lembrar que a doença atinge mais drasticamente os já portadores dessas condições, desenvolvendo-se, assim, neles uma arbovirose de deterioração rápida e de pior prognóstico.

 

A patologia para tal ocorrência baseia-se na penetração do vírus em miócitos, gerando dano direto às fibras musculares, além de consequentemente estimular a atividade imune naquela região, levando à infiltração inflamatória e necrose. Tais episódios decorrem então de uma reação de hipersensibilidade, mas não apresentam clínica de infarto.

 

Os principais acometimentos cardiovasculares são hipotensão, choque, fenômeno de Raynaud, arritmias, miocardites, dilatação miocárdica e insuficiência cardíaca. A IC ocorre em maiores números, chegando a 15% dos que apresentam esse tipo de manifestação. O tempo de progressão dos sintomas varia entre os indivíduos acometidos, dependendo, muitas vezes, da severidade das lesões iniciais e de outras comorbidades pregressas.

A clínica baseia-se basicamente em três fases, sendo a primeira marcada pela detecção de achados não muitos específicos no ECG dos pacientes, principalmente na onde T. A segunda, conhecida como fase arrítmica, ocorre a partir do momento que as injúrias miocárdicas não permitem uma função adequada do sistema de condução cardíaca. Pode haver, ainda, nessa fase fibrilação atrial e extrassístoles ventriculares. A última decorre frequentemente de uma não melhora do quadro subagudo (representado pela segunda fase), a qual prossegue com insuficiência esquerda do coração e choque. 

O diagnóstico do comprometimento cardíaco pelo vírus é feito geralmente com base epidemiológico e em achados clínicos. O tratamento não é algo ainda bem definido, sendo bastante variável nas mais diversas regiões do planeta. 

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